Você pode substituir o celular por…

Nesses dias vi um vídeo na internet que me fez refletir sobre meu tempo de leitura. O material era um vídeo rápido de tiktok que caiu na minha timeline do Instagram e o intuito era mostrar como seria a vida se tratássemos a leitura/ o livro como tratamos as redes sociais/ o celular.

O vídeo inicia com a pessoa pegando um livro assim que acorda, lendo enquanto come, parando o que estava fazendo para ler, abrindo um livro no meio do filme e até mesmo no meio do jantar com amigos. Estranho né?! Mas por que não é estranho fazer o mesmo com o celular?

Hoje pegamos o celular no meio de um jantar em família e “tá tudo bem”, mas se você pega um livro para ler, “nossa… que falta de educação”. Percebe o tamanho do absurdo?

E não estou falando aqui que devemos pegar um livro para ler na mesa enquanto todos comem, podemos fazer o trocadilho com qualquer outra coisa, como tirar sobrancelhas, por exemplo. Precisamos olhar para o quanto naturalizamos o celular na rotina ao ponto de nem perceber essas nuances, de que ninguém liga se você pegou o celular e parou de prestar atenção a tudo que está em sua volta.

A sociedade está cada vez mais dispersa, com dificuldade de manter a atenção em conteúdos que durem mais do que 1 minuto, ler um texto de 500 palavras? Nem pensar!

Como chegamos até aqui?

Tudo o que temos disponível no celular é pensado para que passemos mais tempo sem desgrudar dele. As redes sociais nos prendem, nos mantém lá para que o consumo de propaganda seja o maior possível. Onde já se viu dedicar tempo em uma atividade que não dá view na publi? É isso que acontece quando paramos para ler ao invés de gastar tempo nas redes sociais, você tem uma relação que é entre você e o livro, sem interferência de marcas no meio do caminho.

Até mesmo o mercado editorial, os instagrans literários e os booktubers podem estar cheio de marketing digital e propaganda de x ou y clube de assinatura, cupom de editora ou algo desse tipo, porém o ato de ler é único, é individual e rico, isento de toda essa euforia cibernética.

Já falei aqui antes sobre como quero sair das fast social media e me dedicar a consumir conteúdo slow, criado com empenho, estudo, um material quase artístico. Sei que muitas coisas acontecem justamente nesses locais instantâneos, mas sinto saudade de uma blogosfera que já não cabe mais nos dias em que tudo precisa ter menos de 1 minuto.

Descobri o prazer de ler o Medium na hora das refeições e agora meu celular fica apoiado enquanto leio experiências bem contadas, textos bem escritos e pensamentos de pessoas que gostam de escrever, embora eu tenha a sensação de ter chegado tarde demais à festa quando estou por lá, muitas páginas abandonadas e poucos conteúdos em português.

Desde o dia 1° de novembro deletei os aplicativos do Instagram e o do X Twitter (acho o máximo falar X Twitter pelo trocadilho, me deixem), voltarei a compartilhar momentos em textos despretensiosos, lentos e longos por aqui e nas horas vagas terei o meu kindle sempre em mão! Parece o meme da Bela Gil “você pode substituir a maminha por melancia”? Sim, pode parecer, mas vejam só que substituições maravilhosas!

Esther Greenwood, Gordon Comstock e eu

Por volta de 2010, quando assisti à Sylvia, paixão além das palavras no cine Freud (projeto do curso de Psicologia que eu acompanhava quando cursava Letras na UFC) chorei copiosamente por horas, simplesmente não conseguia parar. Lembro de percorrer as ruas do bairro universitário desolada, nem conseguia explicar o que eu estava sentindo e hoje já nem lembro o que tocou tanto.

Desde então considerei Sylvia uma autora inalcançável para mim, uma leitura que poderia me desestabilizar. Claro, suposições, uma vez que não me permiti experimentar seus escritos até então. Durante uma reflexão de meio de ano percebi que não tinha lido nem um único livro ficção nesse ano, apesar de já ter concluído mais de 30 títulos. Por alguma razão aproveitei que A redoma de vidro estava no Kindle e iniciei a leitura.

Logo nos primeiros capítulos percebi que Esther Greenwood não estava bem consigo mesmo, absorvia muito das amizades ao seu redor e se sentia uma farsa por conseguir excelentes notas em tudo, mas não se sentir boa em absolutamente nada. Notas boas em física e ao mesmo tempo bolsista numa revista. Esther se daria bem em qualquer área que escolhesse por causa de sua dedicação, mesmo que detestasse aquilo que estava fazendo.

Faltando apenas um ano para se formar na faculdade, viu-se num dilema sobre qual emprego teria, pois escolheu um curso sem muita perspectiva mercadológica e o que poderia dar dinheiro, não lhe interessa. Renunciou a cursos mais técnicos e não conseguiu entrar para o curso de escrita criativa que era o seu sonho. Ao voltar para casa durante as férias da faculdade, o choque de realidade de uma vida comum fora da academia a apavorou, as palavras fugiam por entre seus dedos. As inúmeras possibilidades a sua frente e a dificuldade de escolher apenas um caminho tornou-se um fardo pesado demais.

Imaginei que estava sentada embaixo da figueira, morrendo de fome por não decidir que figo escolher. Queria todos, mas, escolhendo um, não podia pegar os outros e, enquanto ficava sentada ali, incapaz de resolver, os figos começaram a amadurecer, apodrecer e cair aos meus pés.

Nesse aspecto, identifiquei-me muito com Esther, bem mais do que eu gostaria. Minha vida acadêmica é uma complicação, desisti do curso que sempre sonhei, Letras, concluí duas faculdades mais técnicas que me possibilitariam um emprego mais bem remunerado, mas acabei não atuando na área por me sentir péssima realizando atividades tão mecânicas. Ao final das contas parei numa terceira faculdade também voltada para o mercado de trabalho, mas com uma pegada mais analítica, que me permite pensar e criar.

Sempre há um dilema enorme em nossas escolhas. Sou apaixonada pelas palavras (leitura e escrita) e pela natureza, eu poderia ter feito jornalismo ou biologia, trabalharia com uma dessas minhas paixões, mas me pergunto se trabalhar com isso, ou seja, ter a minha renda dependente disso me traria prazer ou se essa obrigação tiraria todo o brilho desses hobbies.

Não é incomum reconhecer-se na protagonista, há muitas Esthers no mundo, pessoas que que se dariam bem em qualquer coisa, mas não conseguem se decidir por nada diante da profusão de possibilidades e da cobrança social.

A geração anterior a minha escolhia a carreira de acordo com o primeiro emprego que conseguisse, construíam seguia trabalhando naquela área e pronto. O trabalho era tido como fonte de renda apenas, não de satisfação, a rotina se baseava em ir ao emprego, realizar as atividades que lhe forneceriam um salário ao final do mês e quando chegasse em casa faria o que gostava de fazer. Hoje pensamos de forma distinta, precisamos nos sentir motivados no trabalho, fazer aquilo que amamos…. Será mesmo que precisamos?

Gordon Comstock, em A flor da Inglaterra, trabalhava para conseguir o básico para sua sobrevivência, de maneira que a rotina não o privasse do prazer de criar poemas, fugia de todo e qualquer trabalho que pudesse minar o seu ócio criativo. Essa escolha não foi arbitrária, nem apologia à pobreza ou qualquer coisa assim, em determinado momento de sua vida, ele aceitou uma promoção para ganhar mais, mas o emprego passou a sugá-lo de forma que não tinha mais cabeça para produzir seus poemas, para fazer o que movia a sua alma.

Muitas vezes consideramos o trabalho como o centro de nossas vidas, algo que traga sentido para nossa existência, mas talvez esse sopro vital esteja nos momentos simples do nosso dia a dia, como aproveitar uma caminhada, criar um poema, tocar uma música, assistir a um filme com alguém especial… O trabalho é responsável por nos proporcionar a possibilidade de realizar essas pequenas preciosidades, é uma parte do meio, não o fim em si para alcançar a satisfação.

Ninguém sofre grandes privações com um salário de duas libras por semana, e se sofre, elas não são importantes. É na mente e na alma que a falta de dinheiro prejudica as pessoas.

E então, para ser mais pragmática e sair um pouco dos exemplos ficcionais, em A psicologia financeira, Morgan Housel demonstra que a economia pessoal é muito mais sobre psicologia do que sobre dinheiro em si. É comum que as pessoas passem a gastar mais quando ganham mais, o padrão de vida acaba avançando, nunca deixando margem para um respiro, uma poupança por exemplo.

Assim como Gordon pontua que é na mente e na alma que o dinheiro toca, muitas vezes sentimos falta de ter mais, de precisar de mais, quando a nossa métrica está alta demais. As redes sociais atualmente representam o principal ponto de comparações entre as pessoas, o lugar onde nos sentimos mal por não ter isso, por não fazer aquilo, etc. Daí surgem diversos vazios, necessidades ilusórias… Será que precisamos mesmo de uma garrafa que custa mais de duzentos reais ou é pela modinha? Percebe para onde estamos indo?!

Amo ler, escrever e cuidar de plantas e esses são os meus hobbies proporcionados pelo dinheiro que ganhei no trabalho. Atualmente sou analista de dados e gosto do que faço, mesmo que não envolva literatura ou plantinhas e tá tudo bem, eu posso fazer essas coisinhas que movem o meu ser em qualquer outro momento da minha semana e talvez haja dias em que eu só queira andar de bicicleta ou fazer vários nadas.

Precisamos aprender a valorizar o que nos faz bem e reservar um tempo para isso. O trabalho não é o nosso lazer, claro que ganhar dinheiro fazendo algo que gostamos é maravilhoso, mas precisamos desse momento de pausa para realizar projetos pessoais e fazer atividades banais… Precisamos viver.

P.S.: Se você é daquelas pessoas que sabia com o que queria trabalhar desde a infância e/ou ganha dinheiro com o seu hobby, parabéns, não consigo nem imaginar o quão espetacular isso seja, mas estou falando apenas de Esthers, eu não conseguiria nem cogitar como é conciliar isso, então não estou falando de vocês, ok?! :*

Microplástico, um problema cotidiano

Texto publicado originalmente na Revista Conexão ComCiência, n.1, v.5, 2021(ISSN 2763-5848).

Resumo

INTRODUÇÃO: O plástico foi descoberto em 1862 como uma alternativa ao uso da borracha, logo virou uma alternativa barata e resistente para facilitar a vida do homem, mas em menos de 200 anos esse material tornou-se um dos grandes problemas ambientais. METODOLOGIA: Realizou-se um estudo bibliográfico sobre o impacto do microplástico no meio ambiente. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Atualmente as partículas plásticas com menos de 5 mm de diâmetro são responsáveis por poluir oceanos e rios, bem como pela morte da fauna e pela contaminação do homem. Fazer escolhas conscientes visando sempre alternativas sem plástico é uma maneira de o homem diminuir esse impacto ambiental. CONCLUSÃO: O homem foi o responsável por jogar toneladas de lixo no meio ambiente e ele é o único que pode diminuir e reverter essa situação por meio de práticas conscientes e sustentáveis.

Palavras-chave: Microplástico; Meio Ambiente; Sustentabilidade.

1 Introdução

O plástico foi descoberto por Alexander Parkes em 1862 quando ele procurava um substituto para a borracha, o principal material usado naquela época. Rapidamente esse novo insumo passou a ser usado em larga escala na produção dos mais diversos produtos e em menos de 200 anos ele virou uma das grandes questões para o meio ambiente, principalmente por levar pelo menos 500 anos para se degradar (PHILLIPS, 2008).

Um polímero orgânico de cadeia longa que a depender do seu formato ou composição se destina a diferentes funções, tal versatilidade proporcionou ao plástico estar presente em todos os âmbitos da vida humana, como em equipamentos eletrônicos, embalagens de alimentos, utensílios descartáveis e até mesmo dentro de produtos de higiene e limpeza (LEBRETON et al., 2018).

Além do problema de descarte desses utensílios plásticos em tamanho macro, nos anos de 1970 registrou-se um agravante quando estudos relataram a presença de micropartículas plásticas no oceano (ROCHMAN, 2018). Nos 50 anos seguintes a presença desse material aumentou consideravelmente e para se ter uma noção da extensão desse problema, estudos apontam que o microplástico pode ser encontrado em 90% do sal de cozinha (KIM et al., 2018).

O uso vertiginoso e o descarte indevido do plástico é um dos problemas ambientais mais recorrentes na atualidade e impacta negativamente diversos níveis do ecossistema, logo, este estudo tem como foco as repercussões do microplástico no meio ambiente, procura-se responder à pergunta: “Quais os impactos ambientais advindos do microplástico?”

Para tal, tem-se como objetivo levantar e analisar as principais pesquisas sobre essa temática. Espera-se que este estudo possa fomentar a produção acadêmica nessa área, bem como estimular a consciência ecológica e sustentável na aquisição e descarte de produtos no cotidiano.

2 Metodologia

Realizou-se um levantamento bibliográfico neste trabalho, que tem como norte a busca de relações entre conceitos e ideias, conforme delineia Almeida (2011) sobre a pesquisa bibliográfica.

Para tal, buscou-se nas plataformas de pesquisa Scielo e Science Direct os seguintes descritores “microplastics” e “environment”, no período de maio e junho de 2021.

Realizou-se a leitura e análise crítica do material coletado, sendo selecionados 9 para compor este estudo. A discussão desse arcabouço teórico foi feita pela síntese dos achados mais relevantes por meio de uma abordagem qualitativa.

3 Resultados e Discussão

Microplásticos são partículas de plásticos que medem menos de 5 mm e estão presentes em todo o mundo como um dos principais poluentes dos oceanos desde a década de 70 e, mais recentemente, dos rios e dos solos (ROCHMAN, 2018).

Estas pequenas partículas podem vir de fontes primárias, quando o plástico já é produzido no tamanho diminuto, como no caso de microesferas usadas em cosméticos, fragmentos resultantes de lavagem de roupa e grânulos para jateamento de ar, por exemplo; ou de fontes secundárias com a fragmentação de plásticos maiores devido a degradação mecânica ou exposição à luz ultravioleta, como no caso de garrafas plásticas ou outro recipiente (JIANG, 2018).

Estima-se que anualmente cerca de 12 toneladas desse material é jogado nos oceanos e que esse número aumente em dez vezes nos próximos 5 anos (HALE et al., 2019).

Figura 1. Origem e transporte do microplástico para o ambiente marinho

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Fonte: https://ars.els-cdn.com/content/image/1-s2.0-S0045653521016234-gr1.jpg

Um relatório da International Union for Conservation of Nature (IUCN) demonstra que 30% da Grande Mancha de Lixo do Pacífico é constituída de microplástico (BOUCHER; FRIOT, 2017). Os oceanos viraram uma grande sopa de micropartículas plásticas e a vida marinha é uma das principais vítimas, mas não a única, estudos demonstram a presença do microplástico no interior de organismos vivos dentro e fora do oceano, e até mesmo em 90% do sal de cozinha produzido para o consumo humano (KIM et al., 2018; LI et al., 2016; NEL et al., 2018).

Inclusive, há registros de contaminação por microplásticos nos pulmões de seres humanos, pois geralmente esses polímeros recebem diversos aditivos que impregnam no ar e podem ser inalados por seres vivos (HALE et al., 2019).

Atualmente surgiram alguns movimentos de conscientização em relação ao consumo de plástico, como o Zero Waste (lixo zero), mas é humanamente impossível fugir completamente dos plásticos, uma vez que até os equipamentos eletrônicos possuem termoplásticos (um tipo de plástico não reciclável devido ao seu processo de formação).

A principal solução para diminuir a quantidade de plásticos no meio ambiente é fazer escolhas mais refletidas na hora de consumir qualquer produto, mudar as atitudes para uma mais responsável e sustentável, a exemplo: separar plásticos que podem ser reciclados, reutilizar recipientes, preferir produtos alternativos que não tenham plástico na embalagem, trocar a bucha de plástico por bucha vegetal etc.

Além da conscientização de cada indivíduo como ser crítico e consciente, as empresas também têm o seu papel a cumprir. Algumas grandes marcas já começaram a repensar sua maneira de produzir, mas ainda há um longo caminho pela frente. Hoje, há empresas nacionais que valorizam o cuidado com a natureza, para ilustrar, podemos citar: a Natura, que substituiu as microesferas plásticas de seus esfoliantes por bambu; a O Boticário que faz logística reversa para diminuir a quantidade de lixo doméstico; e a Extra Farma, que recolhe embalagens vazias de medicamentos e remédios vencidos para evitar a contaminação de águas e animais, são pequenas ações que fazem uma grande diferença.

4 Considerações Finais

A produção e consumo do plástico foram bem mais aceleradas do que o tempo de decomposição desse material, o que era uma grande ideia, tornou-se um problema ambiental de sérios impactos. Além do plástico em si, que já afetava a fauna e a flora, na década de 70 o microplástico mostrou-se como um novo problema resultante desse produto, agora ainda mais sorrateiro.

A formação do ser crítico é fundamental para gerar uma atitude de conscientização na hora do consumo e do descarte de materiais plásticos, bem como na procura alternativas sustentáveis como alternativa mais viável para reduzir a poluição ambiental.

Referências

ALMEIDA, M de S. Elaboração de projeto, TCC, dissertação e tese: uma abordagem simples, prática e objetiva. São Paulo: Atlas, 2013.

BOUCHER, J; FRIOT, D. Primary microplastics in the oceans: a global evaluation of sources. International Union for Conservation of Nature (IUCN), 2017. DOI: https://doi.org/10.2305/IUCN.CH.2017.01.en

HALE, R.C. et al. A global perspective on microplastics. Journal of Geophysical Research: Oceans, v. 125, n. 1, p. e2018JC014719, jan. 2019. DOI: https://doi.org/10.1029/2018JC014719

JIANG, J.Q. Occurrence of microplastics and its pollution in the environment: a review. Sustainable Production and Consumption, v. 13, p. 16-23, jan. 2018. DOI: https://doi.org/10.1016/j.spc.2017.11.003

KIM, J. S. et al. Global Pattern of Microplastics (MPs) in Commercial Food-Grade Salts: Sea Salt as an Indicator of Seawater MP Pollution. Environ. Sci. Technol, v. 52, n. 21, p. 12819-12828, out. 2018. DOI: https://doi.org/10.1021/acs.est.8b04180

LEBRETON, R. et al. Evidence that the Great Pacific Garbage Patch is rapidly accumulating plastic. Scientific Reports, v. 8, n. 1, p. 4666, 2018. DOI: https://doi.org/10.1038/s41598‐018‐22939‐w

LI, et al. Microplastics in mussels along the coastal waters of China. Environmental Pollution, v. 214, p. 177 – 184, jul. 2016. DOI: https://doi.org/10.1016/j.envpol.2016.04.012

NEL, A. H. et al. Sinks and sources: Assessing microplastic abundance in river sediment and deposit feeders in an Austral temperate urban river system. Science of The Total Environment, v. 612, p. 950 – 956, jan. 2018. DOI: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2017.08.298

PHILLIPS, A. L. Bioplastics boom: from the dizzying array of new plant-based plastic, some innovative winners emerge. American Scientist, v. 96, n. 2, 2008. DOI: https://doi.org/10.1511/2008.70.109

ROCHMAN, C. M. Microplastics research – from sink to source. Science, v. 360, n. 6384, p. 28-29, abr. 2018. DOI: https://doi.org/10.1126/science.aar7734

A degradação do homem em valor econômico por meio das redes sociais

Estou tentando sair das redes sociais, o que não é tão fácil assim para mim já que minha adolescência girou em torno de escrever em fotologs aos finais de semana e interagir com outras pessoas que também gostavam da plataforma. Seguir a tendência das redes sociais foi algo natural.

A decisão de sair das redes veio de um sentimento de vício. Uma sensação de eu TENHO que postar isso, eu PRECISO mostrar aquilo e etc. Comecei a me sentir obrigada a alimentar aquela rede, a trabalhar de graça para marcas e para o Zuckenberg.

Deletei o Instagram e vez ou outra me pego com uma súbita vontade de postar um stories, mas me controlo. Para me manter firme, tenho procurado livros e artigos em sites com a experiência de pessoas que passaram pelo mesmo e estão tentando se livrar do FOMO e aderindo ao JOMO.

No momento estou lendo dois livros que criticam o uso de meios de comunicação em massa, que são: Dez argumentos para você deletar agora as suas redes sociais, do Jaron Lanier, e A sociedade do espetáculo, do Guy Debord.

A Sociedade do Espetáculo

Em A sociedade do espetáculo, o autor fala sobre a inserção da televisão como o principal meio de comunicação em massa e meio manipulador da sociedade (é um livro de 1997). Já ‘Dez argumentos’ traz um panorama mais atual sobre as redes sociais do momento. Mesmo que a tecnologia tenha evoluído muito num curto espaço de tempo, ambos os livros ainda conversam bastante.

Debord teoriza sobre a inserção da imagética na sociedade, pois as pessoas deixam de viver o real para pautar-se na imagem que lhes é oferecida. A vida deixou de ser vivida para ser mostrada e a essência do ser se transformou no ter. No item 17, ele escreve:

A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social levou, na definição de toda a realização humana, a uma evidente degradação do ser em ter. A fase presente da ocupação total da vida social pelos resultados acumulados da economia conduz a um deslizar generalizado do ter em parecer, de que todo o “ter” efetivo deve tirar o seu prestígio imediato e a sua função última

Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais

E essa degradação do ser é ainda mais visível hoje, com toda essa necessidade de compartilhar e viver em função da imagem irreal que nos é transmitida. Lanier ressalta que as redes sociais pautam-se num sistema de recompensa esporádica para manter essas postagens sempre circulando em troca de um pouco de satisfação.

Estamos lidando aí com uma degradação dupla, onde primeiro temos a substituição do ser em ter e depois do ter em aparentar ter. Assim, as instituições econômicas lucram horrores em cima das cobaias que estão sendo remuneradas com as espaçadas esmolas de endorfina.

ser -> ter -> aparentar ter -> lucro para as instituições econômicas

Cansei de ser influenciada e enganada. Notei que comprava alguns livros por indicações no Instagram e me arrependia amargamente depois porque eram títulos que eu jamais compraria se estivesse passando numa livraria e eu acabava detestando a escrita do autor ou a história era absurda demais. O exemplo mais gritante disso foi o Bom dia, Verônica, que foi tão bem comentado em vários perfis e tornou-se a pior leitura da minha vida.

Sair das redes sociais foi o primeiro passo que tomei para buscar a minha essência interior de volta. Quero ser mais eu, sem influências externas e sem querer mostrar para o outro. Para tanto, resolvi elencar algumas mudanças:

  • Escolher minhas leituras de acordo com o que estou pesquisando ou lendo no momento sem ser levada por hypes das redes sociais (por exemplo: quero ler os clássicos da literatura brasileira, não o Raphael Montes, quero dar andamento ao Estudo Perene, não a trilogia d’O ceifador);
  • Encontrar o meu Ikigai (depois vou falar mais sobre isso aqui no blog);
  • Escrever no meu diário as coisas bacanas do dia, não postar nos stories;
  • Manter a escrita ativa com caderno de resenhas, de receitas e do que mais eu sentir vontade;
  • Observar e cuidar das minhas plantas e dos insetos do jardim ao invés de passar alguns minutos rolando o feed de alguma rede social;
  • Reencontrar amigos para tomar um café, não apenas trocar breves mensagens em aplicativos.

Ainda não saí radicalmente das redes sociais, ainda mantenho o LinkedIn e o WhatsApp por motivos profissionais e de comunicação familiar. Também estou mantendo este blog para postar meus textos mais longos sobre leituras e coisas da vida.

A soberba e o Instagram

Olá, leitores.

Talvez soe um pouco estranho, principalmente hoje em dia, ter um blog e não usar as páginas das redes sociais para promovê-lo e interagir com o público.

Pois bem, antes que me chamem de antiquada ou algo parecido, preciso ressaltar alguns fatos sobre mim: 1) passei a minha adolescência escrevendo e interagindo em blogs aos finais de semana (internet discada, um beijo) na época do fotolog.net; 2) mesmo não sendo da geração que já nasceu imersa na internet, me sinto um pouco parte dela por ter a rede como meu principal lazer durante muitos anos da minha vida.

Claro que de lá pra cá a internet e a forma de usá-la mudou bastante. Hoje vivemos o boom das redes sociais, o que gerou pessoas tão viciadas nisso que não conseguem passar nem 1 hora sem rolar o feed. Graças a Deus que não me encaixo nesse nível de vício, pois a minha decisão teria sido bem mais difícil.

O que me fez refletir sobre a minha maneira de usar as redes sociais foi um pequeno trecho de um livro que estou estudando, o A vida intelectual, onde o autor fala sobre os malefícios da soberba na vida de estudo.

Basicamente, a soberba é o pecado contrário a virtude da humildade e ela faz com que muitos estudiosos só busquem uma vida de estudos esperando palco e reconhecimento, não o fazem verdadeiramente de todo o coração. Como eu já vinha refletindo bastante sobre o Instagram, acabei por adaptar esse pensamento ao uso das redes sociais.

Pense comigo…

Quando estou postando alguma foto no Instagram é para mostrar para outras pessoas alguma conquista pessoal que tive, algum momento bacana. Muitas pessoas, inclusive, ainda estão na onda do “ostentação” e etc. No caso do meu blog, quando posto as minhas leituras mensais ou os livros novos que chegaram por aqui, estou buscando corações e reconhecimento por meu esforço, não estou fazendo genuinamente, como é o caso do estudioso que quer aplausos, pois esses são os tipos de posts que geram mais engajamento.

Daí o tal do algoritmo sufoca os produtores de conteúdo a TER QUE POSTAR todos os dias, mesmo que a pessoa não tenha produzido algo de profundidade, ela precisa dar bom dia para os seguidores e fazer posts salváveis e mil obrigações a mais com a intenção de aumentar a sua visibilidade.

Acaba que até o processo criativo passa por um momento de stress desnecessário porque precisa gerar resultados pra ontem. O que vem depois? No mínimo, uma leve crise de ansiedade e postagens rasas.

E quando estou consumindo?

Bom, aí é que a coisa fica ainda mais delicada. Não sei se você lembra do começo da internet, em que nós precisávamos entrar nos sites e blogs se quiséssemos ver as novas atualizações daquela página que gostávamos. Já falei algumas vezes o quanto eu sinto falta disso!

Pois bem, agora você não precisa mais, uma vez que tornou-se um ser passivo. Sim, um mero receptáculo do algoritmo.

E tal passividade torna-se ainda mais superficial com os deslizes entediados pelo feed. As postagens já são feitas sob pressão e muito provavelmente um percentual das pessoas que as receberam só deram coração porque a composição da foto ficou legal e um ínfimo número de pessoas lerão o que foi escrito.

E mesmo quando estamos interessados em ler o que está abaixo da foto bonitinha, ainda aparece outro fator: a qualidade daquilo que você está lendo. Aqui não me refiro nem ao post produzido sob ansiedade e pressão, mas ao tipo de conteúdo que você resolveu consumir.

Analisando bem o seu feed hoje, sendo bem sincero, o quanto dele é formativo e edificante e o quanto é meramente informativo, estético e vão?

Ao pensar um pouco sobre essas questões, resolvi me afastar mais uma vez das redes sociais, pois sinto que preciso trabalhar a minha humildade e o meu real poder de escolhas. Quero acessar os sites e blogs do meu interesse na hora que eu quiser, não apenas ficar recebendo passivamente uma maçaroca de imagens que em nada me agregam. Decidi que farei, na página do blog, apenas pequenos posts com o intuito de agregar conhecimento ao próximo, nada de marketing digital para conseguir seguidores e corações de reconhecimento.

Economia, mulher e queima de livros

Nessa semana terei que assinar o contrato para a redução do salário e de tempo de trabalho por causa da pandemia do coronavírus, um problema de saúde que interferiu na vida de modo geral, seja social ou economicamente. Essa Medida Provisória brasileira de redução dos salários visa auxiliar as empresas para manter o empregos mais essenciais para que ela não pare completamente.

Em 1837, nesse mesmo 10 de maio, os Estados Unidos sofreu enormemente com a alta do número de desempregos, período que ficou conhecido como “Pânico de 1837” e hoje, 2020, estamos vivendo algo parecido, embora não pelas mesmas razões.

Tentamos ao máximo nos agarrar aos nossos empregos, quem consegue trabalhar de casa, no tal do Home Office, o faz de maneira intensa, pois é exaustivo ter serviços domésticos e laborais tudo no mesmo local. Uma sensação horrível de que não estamos largando o horário de trabalho nunca.

Os governantes estão fazendo jogo de cintura para conseguir contornar da melhor maneira a crise econômica, liberaram auxílios financeiros e investiram no que acharam mais condizente com a realidade do país. É claro que o momento também revelou (ou apenas ressaltou) a verdadeira cara desses tais governantes, seja por não ligar para o número de mortos (e quem esquecerá do famoso ‘e daí‘?) ou por desviar os insumos de outros países em estratégias rasteiras.

E por falar na atitude mesquina do Trump, é válido ressaltar também que hoje seria o aniversário de Mary Anne MacLeod Trump, a mãe do atual presidente dos Estados Unidos, que caiu justamente no Dia das Mães. Dia esse qO Que É Ser Uma Mãe Feminista - Mamãe Tagarelaue sempre causa reflexões importantes sobre a condição da mulher no núcleo familiar, levantando nas redes sociais as famosas frases ‘deseja feliz dia das mães, mas não lava a louça do almoço’.

A grande questão é que não é só no Dia das Mães que temos que dar um ‘descanso’ para essas mulheres. As mães, que perdem a sua identidade quando assumem o papel da maternidade, que deixam sua vida de lado para criar outro ser humano e até o fim da vida carrega a casa nas costas. Não adianta de nada levantar bandeira feminista e explorar a própria mãe nos serviços domésticos, é pura hipocrisia.

A Menina que Roubava Livros: Markus Zusak: Amazon.com.br: LivrosE para não fechar o texto sem indicar um livro, aproveito o gancho para falar sobre uma jovem e sua paixão pelos livros. No dia 10 de maio de 1933, na Alemanha, ocorreu o grande Bücherverbrennung, que significa queima de livros em alemão, evento que ocorreu em praça pública como propaganda da censura nazista. Claro, eu não poderia deixar de indicar o A menina que roubava livros, de Markus Zusak, que conta a história de Liesel Meminger, que ao aprender a ler de maneira torpe, utiliza a literatura como refúgio em meio ao cenário caótico e perturbador da Segunda Grande Guerra e, mais especificamente, em um 10 de maio.

Garota Enxaqueca | Problematizações e comentários

Ultimamente tenho refletido bastante sobre as interações sociais, primariamente nas redes online.

A mais recente das minhas questões pessoais é sobre grupos e conversas. É bem frequente a gente ter alguns grupos de três ou quatro pessoas que conhecemos na vida real para compartilhar coisas de interesse que temos em comum, mandamos links de vídeos, de matérias e afins.

O problema é que quando mandamos esses conteúdos, esperamos algum tipo de interação da outra parte, um diálogo, mas o máximo que conseguimos é uma curtida, uma risada ou uma figurinha. Quando ficamos só na parte da visualizada, ainda chegamos a perguntar “tu viu aquilo que mandei?”, a pessoa responde “vi que você mandou, mas não olhei” e depois isso cai em esquecimento.

A questão que aqui se desenvolve é a seguinte: se nós formamos um grupo que tem interesses em comum e uma das pessoas desse grupo compartilha algo é porque ela quer tecer uma discussão a respeito daquele tema. Se a maior reação que surge dali é uma figurinha, desculpa, meu amigo, talvez o grupo só funcione mesmo ao vivo. É tão maravilhoso poder sentar, conversar sobre vários assuntos e perder as horas de tanta opinião trocada.

Precisamos transcender as curtidas! Curtir não é uma interação, é no máximo aquele sorriso sem mostrar os dentes só para ser educada. É necessário retomar e estimular nossa capacidade de prestar atenção ao outro e de dialogar. Se você não leu, por favor, não curta, e se tiver lido, problematize, não se reduza a uma figurinha.

Imigrantes | Coração azedo e Intérprete de males

Olá, leitores!

Hoje trouxe para vocês a indicação de dois livros de contos sobre a vida de imigrantes. O Coração azedo, da Jenny Zhang, traz a história de chineses que apostaram numa nova vida na América e Intérprete de males, da Jhumpa Lahiri, que aborda a vida de indianos que saíram de seu país de origem pelos mais diversos motivos.

                           Resultado de imagem para coração azedoIntérprete de males - Jhumpa Lahiri

Ambos os livros foram escritos por mulheres, possuem o mesmo formato (antologia de contos) e a mesma temática, mas são bem diferentes! Essa diferença, se dá, principalmente pela perspectiva dos personagens, muito provavelmente por sua origem distinta e tal, e fica bem claro quando, por exemplo, os chineses vivem uma vida miserável nos Estados Unidos, em casas que não possuem o mínimo de higiene, e mesmo assim aguentam tudo aquilo calados e na esperança de que um dia tudo irá melhorar; por outro lado, os indianos, mesmo com uma vida de classe média confortável, ainda sonham com os prazeres da vida na Índia.

Gostei bastante da experiência de leitura, ainda mais que o tom saudosista de Intérprete de males traz vários pontos culturais bem interessantes e o Coração azedo aborda o desenvolvimento de crianças que precisam lidar com um mundo completamente diferente do seu país de origem, a dificuldade da língua estranha… A construção da identidade em outro local torna-se estranha, quase impalpável em todos os casos.

Os dois livros são ótimos para quem gosta de ter contato com diferentes culturas. A questão da dificuldade da imigração, principalmente para mulheres, sejam elas crianças ou adultas é o cerne principal das obras. O choque de costumes é latente e bem verdadeiro, uma vez que as escritoras trouxeram a sua experiência no assunto para as páginas, Jhumpa Lahiri é filha de imigrantes e Jenny Zhang imigrou aos 5 anos de idade.

Gostaria, ainda, de deixar outras duas indicações que lembrei durante essas leituras. A primeira delas é o Eu sou Malala, que conta um pouco mais da história e situação política do Paquistão e (um pouco) da Índia, o que é apenas pincelado em um dos contos (‘Quando o sr. Pirzada vinha jantar’) de Intérprete de males. O segundo livro é O grito de guerra da mãe tigre que aborda a cultura chinesa sobre a perspectiva da criação dos filhos e todo o rigor de exigências tão discrepantes com a educação brasileira. Ambos os livros têm resenha aqui no blog, é só clicar no título deles.

Sou fruto do que a cultura pop me proporciona

Enquanto eu estava no corredor da tentação da Riachuelo (entenda corredor da tentação como aquele mini labirinto cheio de produtos em que você caminha lentamente até chega ao caixa), fiquei ensandecida com a quantidade de itens legais e “baratinhos” que tinha ali. Fones de ouvido da mulher maravilha, porta óculos do Harry Potter, lancheira do Star Wars, dentre diversos outros produtos inspirados nos personagens dos filmes atuais e retrô que estão na moda.

Itens tão baratinhos que fui pegando aos poucos e quando me dei conta estava com cinco produtos em que a soma já chegava próximo a R$ 100,00, refleti, então, o que eu realmente queria, para diminuir aquela quantidade. Primeiro pensei na utilidade dos produtos, o que eu realmente iria utilizar no meu cotidiano, descartei os mini pegadores do Star Wars que só serviriam para ocupar espaço na minha gaveta porque com certeza eu morreria de pena de usá-los. Logo em seguida parei para pensar nos personagens que realmente tinham relação com a minha personalidade, os que eu realmente me inspiravam.

Essa rápida seleção me deixou em choque ao perceber que nenhum desses itens eu realmente precisava. Tenho bolsinhas, fones de ouvido, lancheira, garrafinha na medida do que preciso em casa, então para que eu levaria mais um? Se por causa de uma figura que eu gosto, qual a lógica de levar para casa? Eu não preciso de um objeto com uma figura para me lembrar que eu gosto de uma saga, eu apenas gosto e me identifico com ela por N motivos.

Meu consumismo me levaria a comprar quase cem reais em produtos que eu não estou precisando só por causa de personagens da cultura pop que eu gostei de assistir. Sério, cem reais em livros me levaria a universos incríveis e me proporcionaria muito mais diversão do que a garrafinha da Corvinal e a bag do Darth Vader.

Nesse mesmo dia comprei marcadores de página em tecido da Frida Kahlo e do símbolo do feminismo, fiz as mesmas indagações e cheguei a conclusão de que os marcadores eram realmente úteis, pois eu usaria com frequência. Sobre as imagens que estão em “alta”? Ambas me trazem mensagens de determinação, luta e coragem, não são apenas figuras vazias.