Estou tentando sair das redes sociais, o que não é tão fácil assim para mim já que minha adolescência girou em torno de escrever em fotologs aos finais de semana e interagir com outras pessoas que também gostavam da plataforma. Seguir a tendência das redes sociais foi algo natural.
A decisão de sair das redes veio de um sentimento de vício. Uma sensação de eu TENHO que postar isso, eu PRECISO mostrar aquilo e etc. Comecei a me sentir obrigada a alimentar aquela rede, a trabalhar de graça para marcas e para o Zuckenberg.
Deletei o Instagram e vez ou outra me pego com uma súbita vontade de postar um stories, mas me controlo. Para me manter firme, tenho procurado livros e artigos em sites com a experiência de pessoas que passaram pelo mesmo e estão tentando se livrar do FOMO e aderindo ao JOMO.
No momento estou lendo dois livros que criticam o uso de meios de comunicação em massa, que são: Dez argumentos para você deletar agora as suas redes sociais, do Jaron Lanier, e A sociedade do espetáculo, do Guy Debord.

Em A sociedade do espetáculo, o autor fala sobre a inserção da televisão como o principal meio de comunicação em massa e meio manipulador da sociedade (é um livro de 1997). Já ‘Dez argumentos’ traz um panorama mais atual sobre as redes sociais do momento. Mesmo que a tecnologia tenha evoluído muito num curto espaço de tempo, ambos os livros ainda conversam bastante.
Debord teoriza sobre a inserção da imagética na sociedade, pois as pessoas deixam de viver o real para pautar-se na imagem que lhes é oferecida. A vida deixou de ser vivida para ser mostrada e a essência do ser se transformou no ter. No item 17, ele escreve:
“A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social levou, na definição de toda a realização humana, a uma evidente degradação do ser em ter. A fase presente da ocupação total da vida social pelos resultados acumulados da economia conduz a um deslizar generalizado do ter em parecer, de que todo o “ter” efetivo deve tirar o seu prestígio imediato e a sua função última“

E essa degradação do ser é ainda mais visível hoje, com toda essa necessidade de compartilhar e viver em função da imagem irreal que nos é transmitida. Lanier ressalta que as redes sociais pautam-se num sistema de recompensa esporádica para manter essas postagens sempre circulando em troca de um pouco de satisfação.
Estamos lidando aí com uma degradação dupla, onde primeiro temos a substituição do ser em ter e depois do ter em aparentar ter. Assim, as instituições econômicas lucram horrores em cima das cobaias que estão sendo remuneradas com as espaçadas esmolas de endorfina.
ser -> ter -> aparentar ter -> lucro para as instituições econômicas
Cansei de ser influenciada e enganada. Notei que comprava alguns livros por indicações no Instagram e me arrependia amargamente depois porque eram títulos que eu jamais compraria se estivesse passando numa livraria e eu acabava detestando a escrita do autor ou a história era absurda demais. O exemplo mais gritante disso foi o Bom dia, Verônica, que foi tão bem comentado em vários perfis e tornou-se a pior leitura da minha vida.
Sair das redes sociais foi o primeiro passo que tomei para buscar a minha essência interior de volta. Quero ser mais eu, sem influências externas e sem querer mostrar para o outro. Para tanto, resolvi elencar algumas mudanças:
- Escolher minhas leituras de acordo com o que estou pesquisando ou lendo no momento sem ser levada por hypes das redes sociais (por exemplo: quero ler os clássicos da literatura brasileira, não o Raphael Montes, quero dar andamento ao Estudo Perene, não a trilogia d’O ceifador);
- Encontrar o meu Ikigai (depois vou falar mais sobre isso aqui no blog);
- Escrever no meu diário as coisas bacanas do dia, não postar nos stories;
- Manter a escrita ativa com caderno de resenhas, de receitas e do que mais eu sentir vontade;
- Observar e cuidar das minhas plantas e dos insetos do jardim ao invés de passar alguns minutos rolando o feed de alguma rede social;
- Reencontrar amigos para tomar um café, não apenas trocar breves mensagens em aplicativos.
Ainda não saí radicalmente das redes sociais, ainda mantenho o LinkedIn e o WhatsApp por motivos profissionais e de comunicação familiar. Também estou mantendo este blog para postar meus textos mais longos sobre leituras e coisas da vida.