Quanto vale o seu tempo?, de Fábio Ennor Fernandes

A proposta inicial do livro me encantou, o autor começou esclarecendo que ele sempre quis aproveitar os bons momentos da vida e ficava chateado quando o trabalho tomava a maior parte do tempo dele, além de obrigá-lo a acordar cedo (o Fábio tem até uma linha de artigos com 9 a.m clube, fazendo uma referência ao 5 a.m club), então ele pensou na seguinte solução: vou procurar trabalhos que me permitam o máximo de tempo livre possível.

Parece maravilhoso, não?!

Em boa parte do livro, achei que fosse sim possível para reles mortais como eu alcançar tal feito, mas do meio pro fim percebi que é mais um incentivador do “seja empreendedor”, “seja o dono do seu próprio negócio”, etc.

Mas o livro não é assim de todo mal. Retirei um tripé de ensinamentos, como:

  1. Momentum Mori
    O autor não usou o momentum mori em si, que é a lembrança da mortalidade para reflexão da vida, mas ele tem como princípio algo parecido, porém mais goodvibe, que é olhar pra própria vida como se tivesse 104 anos e analisar se a vida dele hoje irá orgulhá-lo de ter vivido ou enchê-lo de arrependimento por ter deixado a vida passar.
    Além de olhar pra trás, é importante cuidar de si para chegar aos 104! O cuidado com a saúde é fator importante para a qualidade de vida de hoje e de amanhã.
  2. Não tá bom? Muda! Não reclama!
    A grande filosofia de vida do autor é não reclamar. Se algo o incomoda, ele muda, mas não reclama.
    Ele trouxe até mesmo uma reflexão sobre o quanto uma pessoa reclamona intoxica o ambiente e deixa as pessoas ao seu redor com uma péssima sensação.
  3. Dia perfeito – quanto custa – plano de ação
    Para alcançar o estado de plenitude de máximo de aproveitamento do seu dia, o Fábio Ennor propõe o seguinte: desenhe o seu dia perfeito (o dia perfeito de um dia normal, não das suas férias do sonho), depois veja quanto custa viver assim e, por fim, trace suas metas para ter o seu dia perfeito.
    Para o autor, o dia perfeito dele é poder acordar tarde, trabalhar um pouco com o que ele gosta, sair com os filhos, visitar uma tia, trabalhar mais um pouco no final da tarde e a noite estar com a família. Para tal, ele investiu em ações, casas alugadas, empresas e stratups para ter uma renda passiva e a sua renda ativa, que exige a sua presença para faturamento, é o mais divertida e livre possível, pois a partir do momento que não fizer mais sentido, ele terá a liberdade de mudar.
    Nesse ponto comecei a divergir da ideia do autor, para mim seria horrível trabalhar, sair para curtir algo, voltar a trabalhar, pois a falta de horário pré estabelecido me dá a sensação de que estou sempre no trabalho, com certeza eu ficaria com o sentimento de “eu deveria estar trabalhando”. Então meu dia perfeito seria semelhante a minha rotina de hoje, mas com a diferença de menos horas de trabalho por dia, com apenas 5 ou 6 horas de trabalho focado e o restante do dia livre para leitura, escrita, corrida de rua e aulinha de teclado. Eu sei quanto tenho que ganhar ter uma vida assim, mas é quase impossível eu comprar casas para alugar ou investir em empresas! Eu pago financiamento de casa da caixa, se eu tivesse essa renda para investir, com certeza teria quitado minha dívida primeiro, hahahha.

Duas perguntas que auxiliam na reflexão sobre o que seria um trabalho divertido ou como aproveitar melhor o seu dia é a seguinte: O que você faz quando não tem nada pra fazer? O que você faz mesmo que não receba por isso? Para mim, a resposta é bem simples: brincar com as palavras! A dupla leitura e escrita é o que preenche meu tempo livre com qualidade. Seja na escrita de blog ou no journal que mantenho.

Ao final das contas, essa leitura me trouxe bons questionamentos, me fez pensar e repensar alguns planos pro futuro. Tenho os pés no chão de quem nem tudo é tão simples como ele descreve, pois não tenho o espírito empreendedor e desinibido dele, hahah, mas cada pessoa tem o seu jeito, não é mesmo?!

Ninguém escreve ao coronel, de Gabriel García Márquez

“Ninguém escreve ao coronel” foi publicado em 1958 e é segundo livro de Gabriel García Marquez, autor mais conhecidos pelas obras “Cem anos de solidão” e “Amor nos tempos do cólera”.

Nesse livro nos deparamos com um cenário angustiante, um veterano de guerra aguarda a chegada de sua aposentadoria, mas a situação do país vai de encontro a qualquer resquicio de cumprimento desse direito. Sua esposa sofre de asma e sofre continuamente para arranjar o que colocar na mesa. A situação financeira do casal está a mingua, pois as últimas moedas que sobraram do filho que faleceu já foram gastas e agoram dependem de empréstimos e esperanças.

O galo de briga que foi herdado é um eterno ponto de discussão, pois ao mesmo tempo em que há a promessa de trazer muito dinheiro nas rinhas que ocorrerão em janeiro, até lá é uma despesa com que terão que arcar numa situação em que nem sequer eles têm o que comer, imagine só dar algo ao galo.

A narrava de Marquez nessa obra é bem sucinta, pega um tanto do espírito de economia que se vive na casa do coronel. Todas as sextas é sagrado que ele vá ao barco dos correios checar se a carta da sua aposentadoria chegou, sentindo-se humilhado, passou a disfarçar e dizer que não espera nada, o rapaz responde “ninguém escreve ao coronel” para sinalizar que não nem sinal da carta.

É duro para o coronel ter que vender os objetos que tem em casa, pedir por comida, uma vez que já esteve em alto escalão do exército, pelo documento mencionado no texto, o Tratanto de Neerlândia, deixa a entender que ele serviu na Guerra dos Mil Dias, conlito que durou entre 1899 e 1902, ele era um jovem de 20 anos nesse período e já esperava pela aposentadoria há mais de 50!!

Passando ainda pela Companhia Bananeira, por volta de 1928, onde os operários grevistas eram friamente mortos, e o período de grande violência após o assassinato do político colombiano Jorge Eliécer Gaitán, em 1948, percebe-se a dureza da situação do país, marcado por represões em que o jornal pouco ou nada informa e os folhetins clandestinos passam de bolso em bolso com as notícias políticas.

Nesta curta novela de Marquéz é possível mergulhar num contexto histórico da América do Sul, além de duras críticas à situação das famílias desse período e das personalidades mais distintas, como Dom Sabas, que é rico e influente na região, mas na hora de ajudar o coronel comprando o galo, logo baixa o preço do animal a menos da metade. Não há nesse livro nada em vão, cada frase é rica de sentido.

Foi uma leitura maravilhosa! Fiquei angustiada com a situação da família do coronel e também com o pobre galo que carregava tantas incertezas nas costas e ainda seria posto para brigar em rinhas. Senti curiosidade para pesquisar as referências históricas, o que é sempre muito eriquecedor para a leitura (fica aqui a sugestão de texto de apoio para possíveis futuras edições, rs).

On the road, de Jack Kerouac

“Eles eram exatamente como o homem melancólico da pedra que geme na masmorra, erguendo-se dos subterrâneos, os sórdidos hipsters da América, uma inovadora geração beat, com a qual eu estava me ligando lentamente. ” P. 78

On the road é um marco não apenas para a Literatura, mas para toda uma cultura beat. Seu valor sociocultural é inegável, porém essa leitura não funcionou para mim.

A história escrita por Kerouac vem para romper com o sistema a partir de jovens desiludidos, o desprendimento com as imposições sociais dos personagens compõe uma rebeldia que poderia ser muito inspiradora na juventude e talvez por isso não me encantou tanto, ao final fiquei com a sensação de ser um grupo de rapazes irresponsáveis que estou dispostos a qualquer coisa por aqueles ínfimos prazeres momentâneos. O protagonista Sal é um jovens introspectivo que deixa seu romance parado pelo meio para meter os pés na estrada com o intuito de encontrar o seu amigo Dean, que venera o sexo e toma a frente das viagens de maneira um tanto duvidosa, como: realizando furtos, se aproveitando de pessoas e até mesmo arriscando vidas com um carro danificado. A rebeldia do grupo de amigos é uma crítica aos valores sociais de família, trabalho, segurança e ao materialismo.

Pode ser que eu esteja sendo caxias? É uma opção a ser considerada, claro, mas pensa comigo… a premissa do livro é a história de amigos que viajam, uma obra precussora de movimentos culturais, o que eu poderia esperar? Viagens ricas culturalmente, reflexões críticas, coisas desse tipo, ao final só me deparei com noites de bebedeira até perder os sentidos, muitos comentários misóginos, as personagens femininas como mero objetos de cópula.

Algo que me surpreendeu positivamente foi que logo nas primeiras páginas desse volume da L&PM há um texto falando sobre a musicalidade da escrita de Jack Kerouac, não li o original, mas a tradução me passou um pouco dessa sensação de uma escrita bonita que traz em si a velocidade narrativa compatível aos acontecimentos na história.

Há durante a leitura alguns comentários bonitos sobre pequenas coisas da vida, mas são pontos perdidos diante das frenéticas viagens e da tentativa de conseguir o sobreviver até a próxima parada, contando moedas e fazendo bicos.

“Ficamos deitados de costas, olhando para o forro e refletindo sobre o que Deus deveria estar pensando quando fez a vida ser tão triste assim.” P. 81

A Canção de Aquiles, de Madeline Miller

Estava numa vibe de ler textos e obras que envolvessem a Mitologia Grega devido ao Estudo Perene. Enquanto lia Odisseia, me deparei com a personagem Circe, que transformava homens em porcos, e pouco tempo depois descobri que existia um livro contemporâneo sobre ela. Claro, corri para lê-lo e foi um dos melhores livros que já li na vida, a autora mesclava vários deuses de forma tão sutil que só me animou ainda mais para ler obras que envolvessem a Mitologia.

Na sequência, peguei o A história secreta, da Donna Tartt, e me desanimei um pouco, aquele Iluminismo tóxico da academia que menospreza e massacra me deixou meio down para o tema.

Até que tive a oportunidade de ler outro livro da mesma autora de Circe, A Canção de Aquiles. Seria a minha rendição para retomar o tema com os olhos apaixonados?! Bem que eu queria que tivesse sido.

Neste livro, Madeline Miller se propõe a nos contar uma outra versão da Ilíada, dessa vez sob a perspectiva de Pátroclo, que em sua narrativa é amante de Aquiles. Sabemos que na história original eles são amigos diletos, ou seja, melhores amigos, quase irmãos, mas tudo bem, estava aberta à proposta da autora.

Acompanhamos, então, a infância, adolescência, guerra e morte de Pátroclo (isso não é um spoiler, Ilíada é um dos primeiros livros escritos da História do Ocidente, então convenhamos, não é mesmo?!), como um romance LGBT+, a autora traz as primeiras descobertas amorosas e sexuais do jovem, porém a caracterização do protagonista me deixou com um pé atrás, pois Pátroclo é um guerreiro atuante na Guerra de Troia, mas Madeline o tornou tão sensível e sentimental que ele mal consegue usar uma lança.

Esse detalhe começou a me incomodar ao longo da leitura, Tétis e Briseida são outras personagens que se descaracterizaram bastante sob seu olhar, talvez tenha sido a forma que a autora encontrou de fazer o romance principal da história fluir.

Confesso que tantas mudanças na essência dos personagens me desagradaram, além de que a inserção dos personagens, que foram tão maravilhosas em Circe, soaram um pouco truncadas e lentas, em vários momentos parei para ver quantas páginas faltavam para acabar os capítulos (sinal claro de enfado durante a leitura).

Para quem não se incomoda tanto com a descaracterização de personagens clássicos, esse livro pode ser uma boa leitura de entretenimento e até mesmo para conhecer alguns deuses da Mitologia Grega, mas se você precisar escolher, sugiro que opte por Circe.

Contos, de Charles Dickens

Edição do Clube de Literatura Clássica

O livro Contos, de Charles Dickens, veio como segundo livro em um dos kits do Clube de Literatura Clássica e possui três contos, sendo o primeiro bem característico dos textos do autor, que revela as mazelas da sociedade inglesa de maneira leve, os outros dois são contos góticos, o que foi uma enorme surpresa pra mim, pois eu não sabia que o autor também escrevia nesse estilo literário.

Casa de pensão‘ é o primeiro conto aqui reunido e conta a história de uma pensão cheia de causos do cotidiano, uma família de não parentes reunida pelo mesmo teto. Pessoas comuns que se conhecem, trocam experiência e até mesmo se casam depois de um tempo de convivência, claro, há também descobertas cabeludas… A escrita de Dickens é sempre um deleite em humor e observações perspicazes. Na condução da narrativa, o narrador em terceira pessoa quebra a quarta parede e se aproxima ainda mais do leitor da movimentada pensão.

O véu negro‘ é um conto gótico escrito por Charles Dickens, o que me surpreendeu bastante, pois eu só conhecia suas histórias mais leves e cotidianas. Essa história começa numa noite chuvosa, uma senhora adentra o consultório do cirurgião em plena agonia e pede que o médico vá a sua residência no dia seguinte, mas poderia ser tarde demais. Sem entender os motivos que a aflita senhora não o permitia ir no mesmo dia e informava que talvez fosse um inútil ir no dia seguinte, aquilo atormentou o médico durante a noite. No dia seguinte, o bairro lúgubre a ser visitado só causou ainda mais ansiedade no Dr. Ele queria ver o estado de seu paciente o quanto antes. A casa era escura, sombria e regado pelos prantos da sua visitante da noite anterior. A consulta ao “enfermo” trouxe uma grande revelação. A tensão do médico é palpável ao longo da narrativa, deixa o leitor ansioso para descobrir o que está acontecendo. Dickens é um maestro, conduz o leitor conforme sua intenção.

Para ler ao crepúsculo‘ é outro conto gótico de Dickens! Dessa vez, história de fantasma. A narrativa começa com um grupo de homens que discutem sobre coincidências, milagres, fantasmas e coisas do acaso. Até que um deles resolve contar uma história para cair em júri e ser decidido se aquilo seria ou não uma aparição fantasmagórica. A história me lembrou tantas outras obras, como ‘O morro dos ventos uivantes’ e ‘A outra volta do parafuso’, mas nada demais, apenas traços marcantes das histórias góticas, como sonhos assombrados, por exemplo.

Esse foi um livro de leitura rápida, fiquei com muita vontade de ler mais contos do autor, descobrir suas mais variadas facetas. A cada nova leitura de Dickens tenho a impressão de que ele se tornará um dos meus autores preferidos da vida!

A volta ao mundo em 80 dias | Julio Verne

Amazon | GoodReads | Skoob

A figura do balão é um ícone nas capas da história de Julio Verne, né?! E se eu te contar que não tem balão nessa aventura?! Pois é! Não tem.

Julio Verne é conhecido por sua Literatura de Antecipação, os primeiros passos do sci-fi, mas aqui encontramos outros aspectos. A volta ao mundo em 80 dias possui uma linguagem acessível e valoriza a divulgação científica ao longo da narrativa, essa característica é bem comum a outro gênero que surgia na mesma época, o romance policial, que também prima pelo compartilhamento do conhecimento técnico.

Lançado em 1873, A volta ao mundo em 80 dias traz a história do gentleman Phileas Fogg, que é adepto a rotina e a calmaria, faz todos os dias as mesmas coisas e não é dado a excessos. Ele surpreende a todos ao apostar que daria a volta ao mundo em 80 dias, pois não bastasse tamanha ousadia, soaria absurdo vir de Fogg.

Acompanhado de seu empregado, Passepartout (este nome em francês significa chave mestra e muito significa para a construção do personagem, pois ele salva Mrs. Aouda da fogueira, trabalha no circo para sobreviver e ainda arrisca a própria vida para salvar o grupo, ele passa por várias situações inusitadas), eles juntam uma singela trouxa de roupas e uma bolsa recheada de bank notes (papel moeda).

O inspetor Fix acha a atitude de Fogg muito suspeita, principalmente depois de receber a notícia de que o banco inglês havia sido roubado! Ele segue o suspeito por toda a viagem na tentativa de prendê-lo, mas Fix é fiel a lei e aguarda pacientemente (ou nem tão paciente assim) a chegada do mandato de prisão.

Daí a trama de aventura se forma, uma verdadeira corrida contra o tempo (se você já terminou essa leitura, verá que nenhuma outra frase faz mais sentido para descrever essa história, se você ainda não leu ou está lendo, entenderá do que estou falando nas últimas páginas).

A leitura desse Clássico da Literatura Francesa me surpreendeu bastante, pois é uma aventura divertida com uma linguagem leve e conteúdo riquíssimo de conhecimento científico e cultural.

Recomendo a leitura desse livro para todas as idades, sobretudo os jovens leitores, que podem ter uma experiência única diante da possibilidade de aprender muitas coisas ao longo de uma aventura tão divertida.

Como viver com 24 horas por dia | Arnold Bennett | Auster

Estou em uma fase de autodesenvolvimento, tenho pesquisado e lido bastante sobre a relação do homem com o tempo e o trabalho. Em meio a essas minhas andanças livrescas, me deparei com o “Como viver com 24 horas por dia”, achei o título muito pretensioso, mas arrisquei.

Preciso ressaltar que Bennett traz em seu texto a visão de um inglês em meados dos anos 1900, ou seja, não considera nada de atividades domésticas + trabalho + estudo, algo completamente fora da minha realidade. Mesmo diante disso, ainda consegui extrair um valioso ensinamento daqui.

Geralmente vemos as horas que passamos trabalhando como a principal atividade do dia e tudo o que acontece antes ou depois são apêndices do trabalho (você acorda, toma banho, lancha para ir ao trabalho, toma banho, come, descansa, estuda para o trabalho). Arnold propõe que passemos a enxergar as horas fora do trabalho como as principais horas do dia, a labuta foi algo que você precisou ir lá executar para conseguir dinheiro ao final do mês.

Em seguida, o autor traz sugestões de como utilizar melhor esse tempo livre e um conceito que é uma das bases para o livro Minimalismo Digital: gastar o seu tempo com lazeres de qualidade, algo que engrandeça a você mesmo. Aqui pode parecer que ele está falando de ser produtivo até nas horas vagas, mas não é bem assim. Fazendo um paralelo com a sociedade atual, o autor propõe atividades que movimentem o corpo e envolvam aprendizado/ desenvolvimento e não ficar a mercê da passividade (oi, feed das redes sociais).

Basicamente, dedique as 3 horas noturnas ao que alimenta a sua alma, se não gosta de ler, enriqueça-se da maneira que lhe aprouver: jardinagem, marcenaria, pintura, artesanato, instrumento musical, etc. Pense na qualidade dessas atividades e compare com rolar o feed do Instagram.

Bennet traz ainda um esquema para auxiliar na organização dos dias, propõe que o cronograma semanal seja feito com base em 6 dias semanais e que o 7° seja usado para o descanso e o ócio. Ainda é comum nos sentirmos culpados ao descansar, mas esse relaxamento faz parte de ajudar o nosso corpo a processar melhor tudo o que queremos absorver e executar. O descanso faz parte da vida, como dormir ou comer.

No geral, esse livro não foi arrebatador, algo que mudasse completamente a minha forma de ver o mundo, mas esses pontos que aqui listei me fizeram passar algumas semanas refletindo.

Ilíada, de Homero

Ilíada

Ilíada conta os 51 dias da ira de Aquiles, que ocorreu durante o 9° ano desta guerra, onde embora os personagens fossem inventados, a história era tida como um relato de seus ancestrais, que ocorreu entre os Aqueus (aliança dos estados gregos) e os Troianos ¹.

A Guerra começou com o rapto de Helena, mas a história da Ilíada traz em paralelo a vingança pessoal de Aquiles, que é o modelo de honra e valor para os gregos ¹. 

A raiva é um tema bem presente nessa obra, seja por parte de Menelau e Agamenon por causa do rapto de Helena ou por Aquiles, que se sente injustiçado ao perder Briseida (mulher que ele tinha ganhando como prêmio de guerra e muito a estimava). Essa ira de Aquiles faz com que ele não se curve diante das regalias prometidas, voltando à guerra somente após a morte do amigo, com o intuito de vingá-la, mostra-se aqui a moral do herói, tanto difundida na educação básica da Grécia Antiga ¹. 

Enquanto Aquiles demonstra seu senso de justiça ao vingar a morte de Pátroclo, Heitor é a personificação da lealdade para com a sua pátria e sua família, pois defende o irmão mesmo ele tendo raptado Helena. Ou seja, enquanto um busca a Honra, o outro a Lealdade. Mesmo com traços tão distintos e tão heróicos, ambos possuem suas qualidades e defeitos, não sobrepondo-se um ao outro durante toda a narrativa, pois ambos morrem (Aquiles mata Heitor para vingar Pátroclo e Aquiles é morto com uma flechada em seu calcanhar) e fica a deixa para a honra em lutar na guerra ¹. 

Mesmo diante da barbárie da morte de Heitor, após algum tempo, uma trégua se estabelece quando Príamo pede a Aquiles o corpo do filho para que ele pudesse fazer a cerimônia funerária adequada, o herói, comovido, entrega o corpo ao rei de Tróia . 

Na Ilíada, a questão do herói é ressaltada, como a principal virtude de Aquiles que abre mão de sua ira particular para vingar a morte do amigo. O final da Ilíada não é o final da guerra, mas demonstra a vitória do herói sobre ele mesmo ao devolver o corpo de Heitor à família².

Essa foi uma das leituras mais difíceis que já fiz, principalmente por causa da edição em que comecei a leitura. Para quem não sabe, ao ler uma epopeia, você pode escolher entre uma que prime pelo ritmo ou pelo sentido mais próximo possível, se você pegar uma tradução que prioriza o ritmo, a leitura se torna mais demorada porque parece que não está fazendo muito sentido, rs.

Em vários momentos as atitudes de Aquiles são de um garoto birrento e mimado, o que me distanciou bastante do protagonista de Ilíada, mas de forma geral, foi bacana acompanhar a construção de arquétipos para personagens que são usados até hoje.

Você já se aventurou nessa história?

Referências

1- CANTON, J. O livro da Literatura. São Paulo: Globo, 2016.

2 – CARPEAUX, O.M. História da Literatura ocidental. Rio de Janeiro: Leya, 2019.

Bartleby, o escriturário | Herman Melville | L&PM

Bartleby, o escriturário: uma história de Wall Street foi a primeira publicação de Melville após Moby Dick e saiu no periódico Putnam’s em 1853.

Esta obra é narrada por um advogado que trabalha com escrituração e possui três funcionários de personalidades bem distintas. Diante do aumento das demandas, ele resolve contratar um novo escrevente, então Bartleby é contratado. A figura do jovem logo chama a atenção de seu patrão “[…] Ainda hoje sou capaz de visualizá-lo – palidamente limpo, tristemente respeitável , incuravelmente pobre!”p. 27

Logo nos primeiros dias de trabalho, Bartleby se mostra diligente em suas atividades, copia os documentos com todo esmero possível, é o primeiro a chegar e o último a sair, não sai da mesa nem para comer. Tudo caminhava bem, até que ao ser solicitado pelo Advogado para realizar uma tarefa, responde com “Prefiro não fazer”.

A partir dessa recusa, o advogado começa a olhar Bartleby de maneira mais atenta, a apatia em relação à vida é o que sobressai. Até mesmo o uso do “Prefiro não fazer” demonstra a falta de imposição, de querência, ele não chega a não querer, apenas prefere.

A presença de Bartleby começa a incomodar a todos, aquele ser inerte que prefere não realizar atividades e que se alimenta apenas de bolinhos de gengibre parece apenas esperar pela passagem do tempo. O advogado tenta demitir o escriturário, mandá-lo embora, mas ele permanece ali.

A falta de informações sobre o passado, os anseios e os pensamentos do jovem incomoda a todos e levanta várias incógnitas ao leitor. O mais interessante é que esse ser apático desperta no advogado certa preocupação, a história, sem reviravoltas ou explicações, beira ao absurdo, a rotina do escritório é abalada de maneira sutil e inesperada.

Logo no início da leitura lembrei de Dickens, pela narrativa fluida e bem humorada, em seguida a história caminhou para características kafkianas e, ao final, posso resumir Bartleby na frase de Albert Camus: “O absurdo não liberta; amarra“.

O que é Agricultura Sustentável | Eduardo Ehlers | Editora Brasiliense

Este livro faz parte da coleção Primeiros Passos, que se caracteriza principalmente por trazer de maneira sucinta definições sobre um determinado tema. Eduardo Ehlers conseguiu em 92 páginas sintetizar a história da agricultura e as principais características da Agricultura Sustentável.

O tipo de sistema produtivo sustentável está pautado em manutenção dos recursos naturais a longo prazo, otimização da produção e satisfação das necessidades humanas . Ou seja, trocando em miúdos, a produção deve suprir as necessidades sociais e alimentares do homem, proporcionar crescimento econômico e conservar os recursos naturais.

O que mais vemos hoje é o completo oposto disso, monoculturas que devastam a terra e os ecossistemas, produção massiva valorizando apenas o aspecto econômico e pessoas passando fome no país que mais produz alimento.

A fome nos nossos tempos está muito mais associada às desigualdades sociais e à falta de dinheiro para se comprar alimento do que à capacidade de produzi-los. Na Idade Média, o problema era justamente a falta de alimentos para se adquirir.”

Historicamente, o homem cuidava da terra para extrair seu alimento e gerar produtos com valor agregado para comercializar, com o tempo esse pequeno agricultor foi expulso de suas terras e obrigado a ir para as grandes cidades torar-se mão de obra massiva. A produção de alimentos ficou a encargo dos grandes produtores, que fornece alimentos não a quem mais precisa, mas para quem paga mais.

Essa ambição monetária fez com que cada vez mais os grandes produtores aderissem a alternativas químicas para garantir safras com maior valor econômico, daí a gana pelo uso de agrotóxicos. O solo cada vez mais adoecido, produz cada vez menos e é bombardeado cada vez mais de soluções ‘milagrosas’.

Pode até parecer estranho, mas na época do movimentos de contracultura, os ativistas que lutavam por uma terra mais saudável e natural eram tidos como rebeldes da agricultura e essa visão ainda persiste até hoje. Pouco se pensa em agrotóxicos na frente de uma maçã grande e brilhosa ou na cenoura perfeita do mercantil.

É claro que as vezes esses alimentos cheios de venenos são a única opção nas grandes cidades, mas esses consumidores podem começar a procurar mercados e feirinhas próximo a sua residência tanto para comer melhor quanto para incentivar a agricultura familiar. Faz bem pra saúde e para o meio ambiente.

O autor traz alguns eventos em que foram discutidos esse assunto, bem como o título de alguns livros e sites para quem quer se aprofundar mais sobre o assunto.

Inegavelmente a Agricultura Sustentável é uma necessidade urgente para o planeta!