Esse livro ganhou adaptação cinematográfica em 2019 e conta história de mulheres brasileiras.
Martha faz questão de deixar claro no início do livro que essa é a história de muitas avós brasileiras. Poderia ser a história das avós brasileiras, porém uma parcela de mulheres foi deixada de fora do romance propositalmente (nos momentos em que a autora tem a oportunidade de falar da empregada de Eurídice, a Das Dores, ela pular para voltar ao recorte da classe média carioca).
A história se passa por volta dos anos 40 até meados de 60 e temos como protagonista uma mulher branca e classe média que se casou com um funcionário público do Banco do Brasil, a vida seria perfeita se não fosse pelas horas vazias que tomavam seu cotidiano. Todas as habilidades desenvolvidas sendo tolhidas por todos ao seu redor desde a infância e ainda mais agora no casamento, em que ela TEM que ser a bonita esposa dedicada aos filhos.
Talvez pela simplicidade e realidade, em vários momentos lembrei de algumas mulheres da minha família, das que sempre tiveram um pouco mais de dinheiro, claro, mas também das que precisaram trabalhar para não morrer de fome. Os extremos de uma classe intermediária, que são: a mulher que vive em função do marido e não pode desenvolver nenhum projeto pessoal, pois ‘isso não é coisa de mulher direita’; e de outro lado, a que monta um improvisado salão de beleza em casa para complementar a renda familiar, eis Eurídice e Guida.
Esse livro me trouxe à memória, ainda, a série da Netflix ‘Coisa mais linda’, que conta a história de uma mulher brasileira que quer montar o próprio negócio e investir em seu sonho, mesmo tendo sido abandonada pelo marido (faz um paralelo com Guida, não?!) e também do livro O mito da beleza, que trabalha bastante as imposições às mulheres em relação a beleza, família, trabalho, etc.
A escrita de Martha é deliciosa, super envolvente e descontraída. A história também é excelente por trazer um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 40, mesmo que não abranja as mulheres de outras classes sociais, é um relato de crítica ao papel feminino imposto (beleza intacta – esposa perfeita – mãe dedicada).
Para além da família Gusmão, a autora nos apresenta ainda outras figuras já tão caricatas de vários bairros brasileiros, como a vizinha fofoqueira e o dono da papelaria que mora com a mãe mesmo depois dos 40.