Um lugar bem longe daqui | Delia Owens | Editora Intrínseca

OWENS, Delia. Um lugar bem longe daqui. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019. 336p.

Esse livro se passa em duas linhas temporais, uma em 1969, quando o corpo de Chase Andrews é encontrado na torre de incêndio, e outra entre 1950 e 2009, onde acompanhamos da infância a velhice de Kya.

Kya era conhecida como a “Menina do brejo” numa pequena cidade costeira da Carolina do Norte. O brejo era o local onde as pessoas com péssima reputação iam para se esconder de seus credores e da justiça, por causa disso eram chamados de lixo branco. A maior parte do livro se passa em meados dos anos 50 e 60, quando as leis de Jim Crow, uma das responsáveis pela segregação racial ao sul dos estados unidos ainda, estavam vigentes .

Quando ainda era criança, Kya foi abandonada por todos da sua família, tendo que sobreviver sozinha no brejo com a ajuda de uma ou outra pessoa que se compadecia da sua situação. Ela, então, cresceu no meio dos animais e aprendeu que os mais selvagens eram os que moravam na cidade, pois não perdiam a oportunidade de humilhá-la.

Pulinho era o dono de um posto onde Kya abastecia seu barco, ele a esposa ajudaram bastante a jovem nos seus dias mais difíceis. Ele, por ser negro, também conhecia o pior das pessoas da cidade.

A natureza e a solidão são temas perenes nesse romance. “Ela riu para agradá-lo, algo que nunca tinha feito. Cedendo mais um pedacinho de si só para ter alguém.” p.164

Kya é uma personagem resiliente, determinada, dedicada e inteligente. Em seu primeiro dia de escola ela foi zombada por não saber soletrar uma palavra e depois disso nunca mais quis frequentar as aulas. Um amigo, porém, a ensinou a ler, a escrever e a estudar ciências numa cabana do brejo. A partir daí ela cataloga todas as espécimes que encontra nos seus longos e solitários dias.

Em um dado momento, a investigação da morte de Chase Andrews cruza a vida da Kya já adulta e mais uma vez ela precisa enfrentar as pessoas da cidade. Essa história dá leves reviravoltas, surpreende o leitor de maneira emocionante e singela.

Assim como brejo, esse livro é silencioso e ao mesmo tempo cheio de vida, a narrativa de Delia Owens soa como as águas paradas do rio, o que pode ser enfadonho para alguns, mas poético para outros leitores.

Esse foi um romance que não não consegui largar, ficava pensando no brejo quando não estava lendo e cheguei a chorar com o final (sim, chorei de verdade), ou sejam foi um livro que me emocionou do começo ao fim, uma das histórias mais bonitas que já li.

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A vida mentirosa dos adultos | Elena Ferrante | Intrínseca

FERRANTE, Elena. A vida mentirosa dos adultos. Rio de janeiro: Intrínseca, 2020. 432p.

Giovanna é uma criança de 12 anos que até então tinha os pais como seus heróis, mas depois de ela ter resultados ruins na escola, Andrea, seu pai, fala que ela está ficando igual a tia Vittória.

Vittória é a irmã do pai de Giovanna, uma mulher forte e batalhadora que sempre viveu em atrito com o irmão, o que resultou em um completo isolamento por parte de Andrea.

Esse simples comentário desperta na jovem uma vontade de conhecer a tia, mesmo que a contra gosto dos pais. Ela, então, vai conhecer a vida no subúrbio de Nápoles e começa, então, suas descobertas sobre a família e sobre a humanidade.

O contraste dos meios intelectuais que sempre teve contato com os palavreados chulos do bairro da tia despertam em Giovanna uma liberdade de transitar entre essas duas realidades. Por hora valoriza um e por vezes enaltece o outro.

A autora traz, ainda, várias reflexões sobre o papel feminino na sociedade, como quando o pai de Giovanna estuda desde o momento que acorda até a hora de dormir e consegue publicar em revistas seus artigos, enquanto que a mãe precisa preparar o café e arrumar a casa nesse período e seu emprego é corrigir romances açucarados em casa. Talvez pela falta de tempo e não de competência para também ser professora e escritora conceituada.

Os relacionamentos de Giovanna também despertam a questão feminina, desde sua relação com as amigas a seus namoricos, onde quando ela se envolve com Corrado, é algo puramente sexual e ele a tem como propriedade, ao perceber isso, Giovanna faz questão de se engraçar com o melhor amigo dele para mostrar que ela não é um objeto que tem dono.

Giovanna faz o que deseja, conhece a tia que o pai não gosta, viaja para Milão, se relaciona fora dos padrões. Ela é um modelo de rompimento com o que se espera.

Este é um romance de formação em que a partir de suas vivências, Giovanna se descobre e se desenvolve ao passar dos anos.

Elena Ferrante é conhecida principalmente por sua tetralogia Napolitana, que começa com o livro A amiga genial. A autora italiana sempre traz à tona a realidade violenta de Nápoles e uma de suas principais características é a narrativa que enfeitiça o leitor de maneira ímpar. Ferrante tem uma escolha curiosa, mesmo diante do enorme sucesso de seus livros, optou pelo anonimato, ninguém sabe quem é Elena Ferrante (pode ser uma pessoa ou apenas um pseudônimo).

Minha sombria Vanessa | Kate E. Russell | Intrínseca

RUSSELL, Kate Elizabeth. Minha Sombria Vanessa. Intrínseca: Rio de Janeiro, 2020.

Minha Sombria Vanessa

A primeira vez que vi esse livro foi em vídeo do Blog Literature-se, me chamou bastante atenção o fato de a autora ter pensado inicialmente em escrever um romance entre uma jovem e seu professor e só depois ter percebido que se tratava de um caso de pedofilia.

Daí, inspirada principalmente em Nabokov (não apenas em Lolita), Kate reformulou sua história e criou o Minha sombria Vanessa, que traz diversas reflexões sobre a pedofilia e, principalmente, sobre a dificuldade da vítima aceitar que está inserida num relacionamento abusivo.

A narrativa possui duas linhas temporais, uma que nos apresenta a Vanessa de 15 anos e o seu relacionamento abusivo com o professor de literatura Jacob que tinha 44 anos. A segunda linha narrativa é o que seria nos tempos atuais e temos uma Vanessa adulta que trabalha num emprego medíocre e é cheia de complexos trazidos da adolescência, enquanto acompanha as acusações de várias jovens sobre abusos sexuais cometidos por Jacob.

Durante essa leitura fiz várias longas pausas para refletir sobre minhas experiências e o quanto pensamos que estamos acima desse rótulo ou que somos diferentes, mas na realidade é a mesma coisa e eu não fui uma exceção à regra como sempre imaginei.

Em vários momentos senti raiva da Vanessa e até mesmo da autora por defender o professor Jacob, mas logo em seguida percebia que eu fazia a mesma coisa. A visão apaixonada de uma criança ou pré-adolescente parece distorcer ainda mais a realidade.

Esse é um livro extenso que precisa de muita parcimônia para concluir a leitura, pois é um gatilho de pedofilia e relacionamento abusivo. Para quem viveu relacionamentos assim e acha que só aconteceu porque você consentiu, olha, amiga, precisamos conversar, você também não é uma exceção à regra.

As mães | Brit Bennett |Intrínseca

BENNETT, Britt. As mães. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.

As mãesComprei esse livro só porque estava de promoção na Amazon, custava algo em torno de oito reais, então aproveitei mas já tinha colocado na cabeça que se eu não o lesse logo, o abandonaria eternamente na estante por não ter me chamado tanta atenção assim.

Diante de minha baixa expectativa, Brit Bennett me surpreendeu bastante com as vidas das mulheres que ela tece em As mães. Nádia é uma jovem que vive à sombra do suicídio da mãe e se envolve com o filho do pastor da igreja local, a Upper Room, o que resulta na ida da garota à clinica de aborto e a partir daí segue-se o desenrolar dos segredos dos personagens.

Luke, o filho do pastor, mostra-se um completo irresponsável ao abandonar Nádia na clínica e ainda pensar ter razão “– Olha só, essa história toda era para a gente se divertir, não para virar esse dramalhão do cacete – disse ele. – Eu arranjei o dinheiro. O que mais você quer que eu faça” p.35, o que pode ser um reflexo de sua criação meio desgarrada e alimentada pela hipocrisia familiar. Desse primeiro episódio é possível refletir sobre gravides na adolescência e o eterno embate entre o moralismo religioso e o aborto.

Para além dessa questão, a autora também aborda a vida dos negros nos Estados Unidos, que moram em bairros periféricos, que entram para o exército para não morrer pela polícia na rua etc. A própria Nádia, que por volta dos anos de 2009, marcado pela eleição de Barack Obama, é a primeira da família a entrar na Faculdade e se mudar para uma cidade maior. A realidade é perene nas questões raciais, sociais e femininas.

Quando Nádia está na Faculdade, seu mundo se transforma, ela começa a refletir sobre racismo velado e arranja um namorado, Shadi, que é ótimo nos debates, um perfil completamente diferente de Luke, que continua em sua cidade mas consegue se afundar ainda mais ao se envolver com outros homens escrotos do tipo: “– Se ela quer se livrar do seu filho, você não pode dizer nada. Mas e se ela quiser ficar com a criança? Adivinha a quem ela ia pedir dinheiro? Quem ia parar na cadeia se não tivesse grana para pagar? Os homens não têm mais direitos nessa porra, não. […] – É tudo errado, a gente sabe. Eu amo minha mulher mais do que tudo, mas se matar meu filho, eu mato ela também.” p. 117.

Esse abismo entre Nádia e Luke cresce e suas vidas tomam rumos diferentes até que a jovem precisa voltar para ajudar o pai e é necessário enfrentar todos os seus antigos fantasmas já deixados para trás. Agora com seu requinte de pessoa viajada e com amizades cosmopolitas, ela observa a comunidade com outros olhos.

Outras questões femininas são tratadas ao longo do livro, como abuso sexual, ‘papel da esposa’ socialmente imposto e o ‘papel da mulher’ da/na igreja por exemplo. É incrível como em 250 páginas a autora conseguiu levantar assuntos tão pertinentes sem perder seu tom narrativo suave.

Esse seria um livro traz uma gama de assuntos pertinentes que ainda carecem de discussão na nossa sociedade ao mesmo tempo que alivia um pouco a trama com os personagens e ‘zumzumzum’ caricatos de uma congregação religiosa.

Gostei muito dessa leitura e de todas as reflexões que ela trouxe. Não chegou a ser uma história de mudar a vida, mas considero um livro importante.

História da sua vida e outros contos, de Ted Chiang

historia_da_sua_vida_e_outros__1476909220619967sk1476909220bAo assistir A Chegada, fiquei apaixonada pela história e pela forma de tratar a linguística numa temática tão diferente da usual, que tenta dirimir os preconceitos das variações regionais da língua e tal. Mais excitante do que mergulhar nesse filme foi poder acompanhar a construção dessa história por meio do conto História da sua vida, do Ted Chiang.

Indiscutível que várias pessoas procuraram História da sua vida após ver A chegada e se depararam com não apenas um, mas oito maravilhosos contos que viajam entre os mais variados temas.

Mesmo com formação em Engenharia, Ted não se limita aos assuntos da sua área e mergulha no campo linguístico, como em História da sua vida, na matemática, em Divisão por zero e até mesmo no misticismo de uma parábola bíblica, em A torre da Babilônia.

Dois contos envolvem a religiosidade, primeiro em A torre da Babilônia, em que o autor reconta a história já conhecida da Bíblia de uma maneira que mistura o cientificismo e o lúdico. Já em O inferno é a ausência de Deus, Ted traz as divindades cristãs para mais próximo da realidade, os torna seres mais interativos e apupáveis a raça humana, aqui os ‘mistérios’ de Deus já não são tão misteriosos assim, pois as pessoas conseguem até mesmo distinguir se as almas vão para o céu ou para o inferno após a morte.

Há contos também que permanecem nos ‘clichês’ da ficção científica, mas mesmo assim são excelentes histórias, como em Entenda que uma pessoa passa por testes, desenvolve superinteligência e sua interação social é completamente afetada por isso. A evolução da ciência humana traz meta-humanos como uma evolução do homem e Setenta e duas letras apresenta uma sociedade em que foi desenvolvida uma técnica de dar vida a seres inanimados por meio de nomes, uma proposta bem perturbadora no meu ponto de vista.

Em Divisão por zero, a narrativa é construída por dois diferentes pontos de vistas que se baseia na matemática, indo além da exatidão das fórmulas e discutindo a condição psicológica do ser humano. Esse conto me remeteu aos grandes intelectuais que têm/ tiveram dificuldade de socializar com outras pessoas e até mesmo pararam de ver sentido nisso tudo.

História da sua vida é enriquecedor de ler e acompanhar a sua construção, principalmente pelo jogo de tempos verbais utilizados pelo autor e o uso da linguística para o diálogo com os seres extraterrestres. O filme é espetacular e captou bastante os aspectos propostos por Ted, mas deixo o aviso que há mais peculiaridades no conto, pois podemos observar a evolução do entendimento da protagonista na nova “língua” em que ela está aprendendo e as manifestações que esse aprendizado teve em sua vida.

O último conto do livro Gostando do que vê: um documentário me pareceu o cenário perfeito para um episódio do Black Mirror, pois ele reúne diferentes opiniões sobre o uso de um software que determina padrões de beleza, o que gera várias discussões sobre estética e sociedade.

Eu não tenho muito o costume de ler Ficção Científica e História da sua vida me fez querer ler mais livros do gênero por ter me lembrado do amplo leque de assuntos abordados nessas histórias, que vão bem além do “imagina nós daqui a mil anos com um monte de tecnologia assim e pá” e trabalham com construção humana e social de uma maneira descontraída e lúdica.

Mindhunter, de Mark Olshaker e Jonh Douglas

mindhunter_1503778263682797sk1503778263bAssisti Mindhunter na Netflix por indicação de uma amiga da empresa. Gostei bastante da série, me instigou a pesquisar sobre a história e acabei por encontrar o livro que serviu de base para a adaptação.

O livro é bom? Muito bom! A série é boa? Muito boa! O livro é melhor do que a série? Não, mas também a série não é melhor do que o livro. Em Mindhunter ambas as plataformas conversam entre si a partir de suas propostas.

Esse livro foi escrito por John Douglas, em 1970. Para quem ainda não teve contato com a história, ele foi um funcionário do FBI que estudou psicologia e desenvolveu um estudo que permitiu criar uma área dentro da criminologia que relacionasse as características deixadas na cena do crime à personalidade e prováveis desvios psicológicos dos assassinos. A partir daí desenvolveu-se o termo Serial Killers.

O autor traz sua trajetória dentro do FBI, desde seu ingresso ao auge do seu trabalho nesse novo ramo. Os relatos dos casos são surpreendentes e o leitor tem a oportunidade de acompanhar a construção dos pensamentos de John Douglas sobre os assassinos.

Esse livro não é um manual que vai ensinar a identificar características, assinaturas ou motivações, a ideia principal é compartilhar ao público a experiência do autor e como ele se sentia em relação ao seu trabalho.

A narrativa do livro em alguns momentos foi cansativa, principalmente quando o autor tirava para se gabar sobre o quanto ele era/é importante e coisas do tipo. Claro que ele tem esse mérito por tudo o que desenvolveu, mas também não precisava falar sobre isso com tanta frequência ao longo de sua obra.

Conhecer um pouco cada um dos casos foi muito interessante, o conteúdo aqui disposto é rico e cheio de informações bacanas para quem se interessa pelo assunto.

Grito de guerra da mãe tigre, da Amy Chua

CHUA, Amy. Grito de guerra da mãe tigre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011.

  • Tradução: Adalgisa Campos da Silva
  • Título original: Battle hymn of the tiger mother
  • ISBN: 978-85-8057-046-5
  • SKOOB | GOOD READERS | AMAZON

Olá, leitores!

Hoje vou comentar com vocês sobre o livro Grito de guerra da mãe tigre, da Amy Chua, que foi publicado no Brasil pela Editora Intrínseca.

Grito de guerra da mãe tigre foi escrito como uma espécie de biografia sobre como Amy tentou criar as duas filhas sob a perspectiva da educação oriental, ou seja, exigindo o máximo delas. O esteriótipo que conhecemos é de crianças orientais são as melhores em tudo, sempre o primeiro lugar e sempre a ganhadora da medalha de ouro. Nesse livro a Amy apresenta o que rola na parte submersa do Iceberg chamado criança prodígio oriental.

O esforço e dedicação de Amy é tão grande que chega a ser sufocante, principalmente pelas horas intermináveis de treinamento e prática que ela exige das filhas. A filha mais velha, Sophia, sempre fez tudo o que a mãe manda, sendo um exemplo de boa filha oriental, e em contrapartida, a caçula, Lulu, enfrentou a mãe com a ânsia de se libertar das amarras da educação chinesa.

Como pessoa que foi educada segundo os padrões ocidentais, fiquei abismada com as atitudes de Amy para com as filhas. Várias vezes cheguei a pensar “que mulher louca”, mas ao final das contas os métodos dela obtiveram o resultado esperado, mas não de maneira satisfatória, pois suas filhas eram infelizes.

Grito de guerra da mãe tigre faz esse paralelo entre a educação ocidental e oriental e é um ótimo exemplo para as mães, futuras mães e pessoas que gostas de estudar sobre educação de maneira geral.


Eu li: O oceano no fim do caminho, de Neil Gaiman

GAIMAN, Neil. O oceano no fim do caminho. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013.

Tradução de: Renata Pettengill

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Em O oceano no fim do caminho temos a história de um homem que volta à sua casa de infância após um funeral, lá ele recorda de certos acontecimentos de quando tinha 7 anos de idade. A crise econômica de sua família que gerou mudanças no cotidiano desencadeou uma série de acontecimentos, como o suicídio do vendedor de opalas e a chegada de Ursula Monkton. A magia da casa das Hempstock, a amizade nada convencional de Lettie e o terror vivido na própria residência são alguns dos pontos que conduzem essa história.

Quando concluí a leitura desse livro eu não sabia ao certo o que pensar sobre ele. Uma história curta que envolve um mundo mágico pouco desenvolvido, seria um conto infantil ou só mais um livro “ok”? Parei para refletir nos diversos elementos que Gaiman expôs em cerca de 200 páginas e me dei conta do quanto essa história curta é carregada de significados e emoções.

Como se não bastasse o arrebatamento tardio, caí na página de resenhas do Skoob para ver se os leitores reagiram da mesma maneira que eu e pasmem! A reação geral é de amor ou ódio. Creio que isso seja bastante justificável por uma frase contida no próprio livro em questão, “pessoas diferentes se lembram das coisas de jeitos diferentes” P. 196, eu traria esse pensamento para a máxima: “cada leitor lê o livro que deseja”.

Digo isso sem medo, pois O oceano no fim do caminho é um conto infantilizado se você o lê superficialmente, chegando a ser até meio sem pé nem cabeça, desconexo. Embora, se o leitor conseguir captar as nuances que o autor deixou aqui e ali perceberá que cada personagem e cada acontecimento não estão dispostos ali em vão. Gaiman foi perspicaz a ponto de não entregar sua mensagem logo de cara, o poder do lúdico e dos sentimentos são postos de bandeja ao leitor, basta saber aproveitar.

Esse livro é uma história curta, descontraída e tocante, a escrita de Gaiman é tão envolvente que torna a leitura muito rápida e fluída, indicado para todas as idades.

Eu li: Cidade dos Etéreos

Então, finalmente eu li o segundo volume da trilogia “O orfanato dSAMSUNG CAMERA PICTURESa sta. Peregrine para crianças peculiares”, estória que se passa depois da complexa escolha que Jacob teve que fazer ao final do primeiro livro (é, sem spoiler).

A narrativa de Cidade de Etéreos continua em primeira pessoa, então vemos tudo aos olhos de Jacob, só que com mais aventuras e novos personagens. Como livro introdutório, o primeiro vo11374681_1116671481682428_1093694456_nlume da trilogia foi espetacular, pois inseriu o leitor no universo peculiar sem tornar as descrições cansativas, além de tornar tudo mais próximo da realidade ao rechear o livro com fotografias. Nessa continuação não é diferente, além das fantásticas fotografias estranhas, os peculiares passam por perigos e mostram-se cada vez mais unidos e maduros.

As crianças peculiares precisam viajar ao país de Gales para salvar a srta. Peregrine, que está presa em sua forma de ave, para isso eles seguem as instruções do cachorro peculiar Addison. Durante essa viagem os pequenos passam por aventuras entre ciganos, soldados e acólitos, sempre tentando não chamar muita atenção e ao mesmo tempo correndo contra o tempo.

Numa crescente sucessão encalços, o leitor chega até a se perguntar se as crianças peculiares conseguirão finalmente ficar em paz e é nesse misto de curiosidade e peculiaridades que Rangsom Riggs prende o leitor de maneira surpreendente até o final de A cidade de Etéreos e deixa um enorme gancho para A biblioteca das almas, terceiro e último volume da série.

 

Algo engcontospeculiaresgraçado é que nesse livro as crianças descobrem que os contos peculiares vão além de uma coletânea de estórias infantis e que na verdade ela esconde informações secretas sobre o mundo peculiar. Esses contos também foram publicados aqui no Brasil pela Intrínseca.