Então, Elena Ferrante nos últimos anos tem sido uma das autoras mais comentadas na internet, tanto pela qualidade de seus textos quanto pelo mistério que ela criou a seu respeito.

A amiga genial é o primeiro volume da tetralogia Napolitana e nos apresenta a infância e adolescência de duas amigas, Lenu (apelido de Elena) e Lila (Rafaella), que cresceram no bairro violento de Nápoles (daí o nome da tetralogia). Lenu resolve nos contar a sua história com Lila depois que a amiga resolve fugir sem deixar vestígios, isso quando ambas já estão com idade bem avançada.
Lenu e Lila são amigas desde os 4 ou 5 anos e aos olhos de Lenu, Lila sempre se destaca em tudo mesmo sem se esforçar muito, seja na escola ou nas brigas contra os meninos do bairro. Espirituosa, inteligente, durona e única, todas essas características de Lila sempre deixam Lenu com a sensação de que ela jamais conseguirá ser como a amiga, o que gera um sentimento de inveja sempre presente na relação das duas.
Em certo momento da história, Lenu continua seus estudos e vai para o Ensino Médio, mas a família de Lila não tem condições de bancar os seus estudos da menina além do Fundamental, então ela começa a estudar sozinha os conteúdos que Lenu vê na escola e chega até mesmo a superar a amiga que frequenta regularmente o colégio. Esse autodidatismo de Lila é realmente fascinante.
Em concomitância a essa narrativa simplória de Lenu criança e adolescente que só tem olhos para Lila, a autora também nos apresenta a violência e pobreza do bairro de Nápoles, as brigas sangrentas que acontecem por bobagens e a luta por uma ascensão financeira (quase impossível) nos negócios da família, pois o filho do sapateiro será sapateiro e o filho do charcuteiro será charcuteiro, exceto os filhos de algumas famílias em que os pais não têm um negócio próprio e acabam sendo contratados como pedreiro e balconista na papelaria, por exemplo.
Elena Ferrante nos apresenta também a uma enxurrada de personagens, são tantas famílias (com quatro ou cinco integrantes mais ou menos, diga-se de passagem) que entrelaçam os acontecimentos entre Lila e Lenu que muitas vezes a narrativa desfoca um pouco das protagonistas, o que tornou esse primeiro livro alongado demais e quase impossível de trazer grandes acontecimentos. Excetuando os estudos de Lenu, as peripécias de Lila em tentar estudar sozinha ou criar uma linha de sapatos para a sapataria do pai e as relações sociais e financeiras entre as famílias, nada de muito emocionante acontece em A amiga genial.
Como livro introdutório à série Napolitana, A amiga genial me envolveu bastante, principalmente por eu gostar de narrativas com um ar naturalista, que retrata um recorte social de maneira crua e realista, mas esse tipo de estrutura pode incomodar a muitos leitores e chegar a tornar-se enfadonha e cansativa.