RUSSELL, Kate Elizabeth. Minha Sombria Vanessa. Intrínseca: Rio de Janeiro, 2020.

A primeira vez que vi esse livro foi em vídeo do Blog Literature-se, me chamou bastante atenção o fato de a autora ter pensado inicialmente em escrever um romance entre uma jovem e seu professor e só depois ter percebido que se tratava de um caso de pedofilia.
Daí, inspirada principalmente em Nabokov (não apenas em Lolita), Kate reformulou sua história e criou o Minha sombria Vanessa, que traz diversas reflexões sobre a pedofilia e, principalmente, sobre a dificuldade da vítima aceitar que está inserida num relacionamento abusivo.
A narrativa possui duas linhas temporais, uma que nos apresenta a Vanessa de 15 anos e o seu relacionamento abusivo com o professor de literatura Jacob que tinha 44 anos. A segunda linha narrativa é o que seria nos tempos atuais e temos uma Vanessa adulta que trabalha num emprego medíocre e é cheia de complexos trazidos da adolescência, enquanto acompanha as acusações de várias jovens sobre abusos sexuais cometidos por Jacob.
Durante essa leitura fiz várias longas pausas para refletir sobre minhas experiências e o quanto pensamos que estamos acima desse rótulo ou que somos diferentes, mas na realidade é a mesma coisa e eu não fui uma exceção à regra como sempre imaginei.
Em vários momentos senti raiva da Vanessa e até mesmo da autora por defender o professor Jacob, mas logo em seguida percebia que eu fazia a mesma coisa. A visão apaixonada de uma criança ou pré-adolescente parece distorcer ainda mais a realidade.
Esse é um livro extenso que precisa de muita parcimônia para concluir a leitura, pois é um gatilho de pedofilia e relacionamento abusivo. Para quem viveu relacionamentos assim e acha que só aconteceu porque você consentiu, olha, amiga, precisamos conversar, você também não é uma exceção à regra.