
Chuck Palahniuk já escreveu mais de 10 livros e ficou conhecido, principalmente, por sua obra Clube da Luta, que logo ganhou adaptação cinematográfica e arrebatou o coração do público, tornou-se um verdadeiro clássico do cinema.
Condenada é o primeiro livro de uma trilogia de dois livros e uma HQ, conta a história de Madison Spencer, uma jovem de 13 anos que tem baixa autoestima e está no inferno. Acompanhamos, assim, duas linhas narrativas, a da Madison no inferno e uma pregressa de quando ela estava viva.
Madison acredita que morreu por overdose de maconha e que foi para o inferno por ser gorda e feia. Já no inferno, Chuck monta uma espécie de Clube dos cinco para desbravar as diversas peculiaridades do submundo.
Adianto que o inferno de Palahniuk é escatológico, o peso e a sujeira toma conta de todo o ambiente. Algo interessante que achei nesse cenário é a convivência harmônica dos demônios de todas as crenças existentes, não apenas os da cristã.
“Não, não é justo, mas o deus de um homem é o diabo de outro. Quando cada civilização sucessora se torna um poder dominante, entre suas primeiras ações está destituir e demonizar quem quer que a cultura anterior tenha adorado. […] Conforme cada entidade ia sendo deposta, era relegado ao Inferno. Para deuses há tanto tempo acostumados a receber tributo e atenção afetuosa, claro que essa mudança de status os deixou loucos da vida.” p.42
A família de Madison também é algo interessante de observar, já que a hipocrisia deles faz com que mal deem atenção à filha e ao mesmo tempo adote crianças de países subdesenvolvidos só para se manter na mídia. Aqui surgem diversas críticas sobre as pessoas ricas que buscam ser ‘ecológicos’ apenas para passar uma ‘ideia positiva’ de sua imagem.
Em minha experiência de leitura, tive e impressão que o autor se usou de uma tempestade de ideias bizarra para a construção do inferno e ao mesmo tempo quis fazer um livro mais leve, quase adolescente, na vida terrena da protagonista.
Chuck Palahniuk considera suas obras como transgressivas e até entendo de certo modo, principalmente em Clube da Luta, mas Condenada me decepcionou em diversos momentos. Para além da construção esdrúxula do inferno, o autor passou as primeiras páginas tentando explicar a formação do grupo principal da história sem necessidade, qualquer pessoa reconhece os personagens de Clube dos Cinco sem precisar de uma introdução sobre… Sério, Chuck, não subestime a inteligência dos seus leitores.
Outro fator que me incomodou demais foi a questão feminina, logo nas primeiras linhas a baixa autoestima de Madison faz com que ela se chame de “gorda – uma verdadeira leitoa” p.5 e, para mim, uma das piores cenas é quando ela fica presa fora da escola e deseja que um policial a encontre e a estupre “Nem um segurança tarado me pegou. Droga” p.82, desses dois exemplos é possível perceber a misoginia presente ao longo da narrativa.
Não pretendo ler a continuação dessa história e vou passar pra frente meu exemplar desse livro.