Sem sombra de dúvidas Flush é o livro mais leve e descontraído da autora inglesa Virgínia Woolf, conhecida por suas histórias contadas em fluxo de consciência.
Virgínia Woolf inspirou-se em cartas escritas por Elizabeth Barrett e Robert Bowning que vira e mexe mencionavam Flush, o esperto cachorrinho da raça Speniel, para fantasiar e criar essa história, a autora aproveita e descreve trechos das cartas ao longo da narrativa. Fadigada de todo esforço que seu último livro demandou, As Ondas, Virgínia escreve Flush como uma brincadeira descontraída para distrair-se, mal esperava ela que essa sua “brincadeira” faria tanto sucesso.

Flush conta a história do cãozinho da raça Speniel, que renegou todos os prazeres da vida livre, das brincadeiras ao sol, para acompanhar sua dona, a senhoria Barrett, que vivia trancada em seu quarto devida sua saúde. Vez ou outra Flush saía à rua para passear, mas sempre guiado por sua coleira. Apesar de ser apenas um cãozinho, Flush conseguia diferenciar o enorme abismo existente entre as pessoas e os cães daquela sociedade, ele, por exemplo, um cão aristocrata que tinha direito a uma tigela vermelha e a uma guia na hora de passear, ao contrário de tantos vira latas que comiam o que encontravam na sarjeta e não tinham um dono para proporcioná-lhes regalias.
[…] Reparou com ar de aprovação no pote vermelho em que bebia sua água – marca dos privilégios de sua posição -; abaixou sua cabeça lentamente para permitir que a guia fosse presa à coleira – marca do preço que se tem que pagar por isso. Nessa ocasião, quando a Senhoria Barrett o viu olhando-se no espelho, estava errada. Ela pensou que ele parecia um filósofo meditando a respeito da diferença entre aparência e realidade. Ao contrário, ele era um aristocrata observando seus atributos. P. 37
Virgínia aproveita a inocente visão do cachorro Flush para alfinetar esses conflitos sociais, principalmente quando ela descreve o submundo existente ao lado dos quartos confortáveis elegantes de Londres. Essa história traz à tona, também, as diferenças culturais entre países, a valoração exagera de certos atributos que são insignificantes em outros locais.
Com uma escrita leve, as 141 páginas desse livro proporcionam uma leitura rápida e bonita. Ressalto que há momentos em que Flush traz passagens melancólicas, um verdadeiro sofrimento para quem gosta muito de cães, a exemplo as passagens em que Flush é reprimido por suas atitudes mesquinhas e ele tenta entender porque está sendo “rejeitado”, ou quando ele passa maus bocados nas ruas perversas de Londres.
Fiquei aflita em alguns momentos desse livro, preocupada e com pena do cachorrinho, mas em tantas outras me senti recompensada com as comparações sociais e culturais que Virgínia aborda, ou seja, Flush é um livro descontraído, emocionante e rico.
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Um comentário em “Eu li: Flush, da Virgínia Woolf”